quinta-feira, 19 de março de 2009

Assessoria X Redação

Minha querida colega Siliane Vieira (autora da foto que ilustra o blog e nossa eterna Bebeinho da turma da Prefa) está cursando a disciplina de Assessoria de Imprensa no Curso de Jornalismo da UCS. Como é praxe nesta disciplina, os alunos entrevistam assessores de imprensa sobre o dia-a-dia da atividade.
Segue a entrevista que a Sili fez comigo:

1 - Na sua opinião, qual é o principal papel de um assessor de imprensa?
Entre várias atividades, creio que o principal é mediar as relações entre os profissionais da imprensa e a instituição/empresa/pessoa assessorada. Nem sempre um tem conhecimento da forma como se desenvolvem as atividades do outro.
Por isso, cabe ao assessor estabelecer algumas diretrizes para evitar conflitos e fazer a ponte para facilitar o trabalho de ambos, dando visibilidade à instituição/empresa/pessoa assessorada.

2 - Cite pelo menos uma característica positiva e uma negativa dentro desta área do jornalismo.
Positiva – como regra geral, é mais valorizada e permite maior flexibilidade de horários.
Negativa – afasta o profissional do contato diário com o ambiente da redação.


3 - Você já sentiu dificuldades para explicar a um assessorado o verdadeiro papel de uma assessoria de imprensa? Qual seria a melhor maneira de se agir diante de situações como esta?
Acho que não. Em geral, todas as pessoas com quem trabalhei sabiam bem do papel da assessoria. No entanto, sempre há dificuldades - para quem não é jornalista - em compreender algumas particularidades da profissão, como o imediatismo, a necessidade de respostas ágeis e a corrida contra o tempo por causa dos dead-lines.
Só tem um jeito de enfrentar a questão: conversar e explicar que se a resposta não for enviada, o jornal (ou programa) sai de qualquer jeito, sem esta informação - o que pode ser muito ruim para a empresa/ instituição/ pessoa assessorada.

4 - Já lidou com momentos de crise da empresa, instituição ou pessoa assessorada? Que tipo de ações o assessor deve tomar em casos assim?
Há uns dois meses, passei pela pior crise numa instituição em toda a trajetória como assessora: a questão do aumento da água em 116%. Antes do anúncio, numa reunião de diretoria, argumentei que certamente as manchetes destacariam o percentual do aumento – e não as novas tarifas da água, o que se pretendia divulgar. No entanto, a avaliação da assessora de imprensa não foi levada em conta. Hoje, o Diretor-Geral da instituição reconhece que errou. Ele já admitiu até em entrevistas que tomou uma decisão equivocada – à revelia da assessoria - e que toda a crise poderia ter sido evitada.
Como assessora, fiz meu papel: apontei as possíveis conseqüências e a tendência de repercussão na mídia. Porém, como acontece muitas vezes no mundo corporativo, as decisões da área técnica e da Direção são mantidas. E o resultado pode ser desastroso.

5 - Já trabalhou em outra área do jornalismo, que não assessoria? Acredita que há preconceito entre os colegas dos meios de comunicação em relação a assessores de imprensa?
Já atuei como repórter, apresentadora e editora em jornal e TV. Atualmente edito e apresento um programa semanal de rádio.
Eu nunca senti preconceito, de nenhuma parte. Acho que tudo depende da postura do profissional, seja de veículo de comunicação, seja assessor. Repórteres experientes sabem quando estão diante de um assessor de postura profissional – e vice-versa.

6 - Já teve confrontos éticos com eventuais assessorados. Como lidou com isso?
Não me lembro de situações de confrontos éticos.
Mas como repórter e editora sempre sofri muita pressão de pessoas/ instituições que queriam aparecer a qualquer custo - às vezes, sem ter informação relevante a passar.
E raramente isto acontece quando uma assessoria profissional está envolvida.

7 - Como você enxerga a situação de mercado da assessoria de imprensa, tendo em vista que este serviço muitas vezes é prestado por profissionais de Relações Públicas ou Publicidade?
Aqui acredito que se estabeleceu um certo conflito. E eu culpo as faculdades.
Como diferenciar as áreas de atuação – que já têm limites tênues – quando as universidades afunilam as disciplinas de redação, reunindo num só grupo estudantes de Jornalismo, Publicidade ou Relações Públicas? Como é que um acadêmico de Jornalismo vai exercitar o texto jornalístico cursando a disciplina com alguém focado em Publicidade? E assim por diante...
As atuações podem até se confundir (e o mercado hoje exige isso). No entanto, a formação precisa ser diferenciada.

8 - Tendo em vista sua experiência com assessoria de imprensa num órgão que possui ligação direta com personalidades políticas, pergunto se existem especificidades de um trabalho realizado nesta área? Quais?
Eu diria que é necessário ler bastante sobre temas recorrentes para assessores de imprensa de órgãos políticos, na hora de elaborar textos. Por exemplo: o processo legislativo, o funcionamento e as atribuições dos poderes (Executivo e Legislativo), o Ministério Público, a estrutura das instituições, etc.
É impossível “vender” as informações para a imprensa quando não se domina corretamente o assunto.


Bjs Sili!
Tu já és uma baita jornalista. Tens as qualidades necessárias – inteligência, postura, respeito, conhecimento – e também todo o potencial para fazer muito sucesso!

Nenhum comentário: